Menina do mato e outros poemas anfíbios
Por Josiane Martins
Estrutura de papel, pedra e alma
Li todas as palavras pensando no corpo
Li todas os pontos como se fossem paradoxos atemporais
Li todas as estrofes imaginando a liberdade
Olhei a parede que se alimentava da mutilação
O livro era uma alusão à violência
Do meu corpo, do corpo dela, do corpo negro.
coisas
Tudo o que sentimos por dentro do corpo está intimamente ligado às coisas
corpóreas do lado de fora:
à caixa vazia,
aos quadros na vertical interferindo na gravidade,
às pedras expostas no chão,
às vitrines
Vira-lata
No meio da migração dei nome aos cães
Ouvi latidos
Hibridações classificadas
Sem nenhum tipo de castração
Era a liberdade da viralatice
Sem coleira
Nem diamantes
Com nomes temperados
Olhos vidrados
Na carne do outro
Nó das pausas
Foi na pausa que adoeci
Na espera
Culpa da poeira cósmica
Em velocidade
Embrulhei-me no inverso
do verso
na trama invertida
sem medo de calor e tramas vendidas
comecei a me embrulhar de mar
ataque às subjetivações
do cão
do monte feito de pedras translúcidas
nenhum sentimento verdadeiro plantei
ficou um nó
Dia 1
Fiquei sentada por horas
olhei sem peso ocular,
olho vidrado no mínimo empoeirado
Meu mundo-loba
Meu mundo-aberto-em-mim
Teu mundo
livre e com incertezas
contaminações
Vi.
eu sou o mundo em temporadas encaloradas
temporadas mistas
de cor
do vento trazendo sonoridades do mar
SOBRE A AUTORA
Josiane Martins é uma mãe que escreve, escreve com uma Menina no colo. É professora e escritora nascida e criada em Belém do Pará em 1991, mescla escrita com fotografia e cria poesias locais-globais das vivências amazônidas. Poeta no portal Fazia Poesia e escreve fotopoeticamente no site https://poesiadomato.wordpress.com/