Menina do mato e outros poemas anfíbios

Ney Ferraz Paiva
Revista Caliban issn_0000311
2 min readAug 4, 2023

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Por Josiane Martins

Raquel Ferreira, Nosso laço, aquela varanda, 2019

Estrutura de papel, pedra e alma

Li todas as palavras pensando no corpo

Li todas os pontos como se fossem paradoxos atemporais

Li todas as estrofes imaginando a liberdade

Olhei a parede que se alimentava da mutilação

O livro era uma alusão à violência

Do meu corpo, do corpo dela, do corpo negro.

coisas

Tudo o que sentimos por dentro do corpo está intimamente ligado às coisas
corpóreas do lado de fora:

à caixa vazia,

aos quadros na vertical interferindo na gravidade,

às pedras expostas no chão,

às vitrines

Vira-lata

No meio da migração dei nome aos cães

Ouvi latidos

Hibridações classificadas

Sem nenhum tipo de castração

Era a liberdade da viralatice

Sem coleira

Nem diamantes

Com nomes temperados

Olhos vidrados

Na carne do outro

Nó das pausas

Foi na pausa que adoeci

Na espera

Culpa da poeira cósmica

Em velocidade

Embrulhei-me no inverso

do verso

na trama invertida

sem medo de calor e tramas vendidas
comecei a me embrulhar de mar
ataque às subjetivações

do cão

do monte feito de pedras translúcidas
nenhum sentimento verdadeiro plantei
ficou um nó

Dia 1

Fiquei sentada por horas

olhei sem peso ocular,

olho vidrado no mínimo empoeirado

Meu mundo-loba

Meu mundo-aberto-em-mim

Teu mundo

livre e com incertezas

contaminações

Vi.

eu sou o mundo em temporadas encaloradas
temporadas mistas

de cor

do vento trazendo sonoridades do mar

SOBRE A AUTORA

Josiane Martins é uma mãe que escreve, escreve com uma Menina no colo. É professora e escritora nascida e criada em Belém do Pará em 1991, mescla escrita com fotografia e cria poesias locais-globais das vivências amazônidas. Poeta no portal Fazia Poesia e escreve fotopoeticamente no site https://poesiadomato.wordpress.com/

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